Cardeal Müller apresenta objeções ao
Instrumentum Laboris do Sínodo da Amazônia
Vaticano, 16 Jul. 19 / 01:20 pm (ACI).- O Cardeal alemão Gerhard Müller apresentou uma série de objeções ao Instrumentum Laboris do Sínodo da Amazónia, publicado no dia 17 de junho, que ocorrerá em Roma, em outubro de 2019.
Numa série de comentários, oferecidos pelo Cardeal Müller, que foi Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé entre 2012 e 2017, à publicação do Grupo ACI CNA Deutsch, assinala, em primeiro lugar, uma ambivalência na definição de termos e objetivos.
Explica que o texto do Instrumentum Laboris possui “algumaspreocupantes redundâncias " e que "se todas as repetições fossem eliminadas, o texto ficaria reduzido a metade, ou ainda menos ".
Entretanto, na opinião do Cardeal Müller, o problema não é tanto a exagerada extensão do texto, “mas o facto de que o significado dos termos-chave não são explicados e são utilizados de maneira exagerada”.
Em concreto, cita conceitos pouco explicados como “caminho sinodal”, “desenvolvimento integral”, “Igreja samaritana, sinodal e aberta” ou “uma Igreja de abertura, a Igreja dos pobres, a Igreja da Amazónia”.
Em segundo lugar, assegura que “a estrutura do texto apresenta-se radical na hermenêutica da teologia católica”. No Instrumentum Laboris, “toda a linha de pensamento se torna autorreferencial e circula em torno dos últimos documentos do Magistério do Papa Francisco, com algumas escassas referências ao Papa João Paulo II e Bento XVI”.
“Talvez o desejo era mostrar uma especial lealdade ao Papa, ou talvez acreditaram ser possível evitar os desafios do trabalho teológico quando se fazem constantes referências a palavras-chave conhecidas, e frequentemente repetidas, que os autores chamam, de maneira bastante incompetente: «o mantra de Francisco»”.
O Cardeal destaca também que os autores do Instrumentum Laboris confundem “os papéis do Magistério por um lado, e da Sagrada Escritura pelo outro” e, inclusive, indica que o documento “chega ao ponto de afirmar que há novas fontes da Revelação”.
Diante disto, sublinha que “a Sagrada Escritura e a Tradição são as únicas fontes da Revelação”.
O Cardeal Müller também se mostra crítico quanto ao método de trabalho da organização “Rede Eclesial Pan-Amazónica”, que foi praticamente criada para elaborar o Instrumentum Laboris e que “é uma sociedade fechada de pessoas com o mesmo ponto de vista sobre o mundo, tal como se pode observar facilmente na lista de nomes dos encontros pré-sinodais, que tiveram lugar em Washington e Roma, que contém um número desproporcional de europeus de língua alemã”.
Nesse sentido, chamou a atenção sobre o facto de que, no documento, os autores, identificados com a chamada “Theologia India (Teologia indígena) ”, “citam-se primordialmente a si mesmos”.
A imunidade deste grupo às objeções levantadas com seriedade, sua doutrinação, dogmatismo monolítico, ritualismo e clericalismo também são objetos da crítica do ex-Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Ele assegura que muitos deles carecem de experiência em assuntos da América do Sul e, se lhes foi confiada esta tarefa, é porque “acreditam que os temas estão alinhados com a estratégia oficial e podem servir para controlar os temas do atual caminho sinodal que empreenderam a Conferência Episcopal alemã e o Comité Central dos católicos alemães” em temas como a abolição do celibato, o acesso das mulheres ao sacerdócio ou a adaptação da moral sexual revelada à ideologia de género.
Na reflexão do Cardeal Müller, adverte-se também sobre os perigos do conceito de “cosmovisão” presente no Instrumentum Laboris: “Uma cosmovisão com os seus mitos e a magia ritual da Mãe ‘Natureza’, ou de seus sacrifícios aos ‘deuses’ e espíritos que assustam nosso intelecto, ou que nos tentam com falsas promessas, não podem de forma alguma ser um enfoque adequado para a vinda do Deus Trino em Sua Palavra e em Seu Espírito Santo”.
O Cardeal pede maior seriedade aos responsáveis pelo Instrumentum Laboris e pergunta: “Por acaso na formação dos futuros pastores e teólogos deve-se substituir o conhecimento da filosofia clássica e moderna, dos Padres da Igreja, da teologia moderna e dos concílios pela cosmovisão amazónica e a sabedoria dos antepassados com os seus mitos e rituais?”.
“A contemplação do cosmos é apenas a ocasião para glorificar Deus e o Seu maravilhoso trabalho na natureza e na história. O cosmos, entretanto, não deve ser adorado como Deus; só o Criador deve sê-lo”, enfatiza o Cardeal.
Do mesmo modo, recusa conceitos como “teologia indígena” ou “ecoteologia”: “são uma derivação do romanticismo social”.
“A teologia é a compreensão (intellectus fidei) da Revelação de Deus na Sua Palavra e na Profissão de Fé da Igreja, e não uma nova e contínua mistura de sentimentos do mundo e de pontos de vista do mundo ou de constelações religiosas-morais do sentimento cósmico tudo-em-um, a mistura dos sentimentos do próprio eu com os do mundo”.
Pelo contrário, “o nosso mundo natural é a criação de um Deus Pessoal. A fé no sentido cristão é, portanto, o reconhecimento de Deus em Sua Palavra Eterna que se fez Carne: é a iluminação do Espírito Santo para que reconheçamos a Deus em Cristo”.
O Cardeal Müller finaliza a sua análise do Instrumentum Laboris, assinalando que o que falta no documento “é um testemunho claro da auto comunicação de Deus no verbum incarnatum, da sacramentalidade da Igreja, dos Sacramentos como meio objetivo da Graça, em lugar de meros símbolos autorreferenciais, do carácter sobrenatural da Graça”.
“A integridade do homem não consiste só na unidade com uma bio-natureza, mas na Filiação Divina e na comunhão plena de graça com a Santíssima Trindade, de modo que a vida eterna é o prémio pela conversão a Deus, a reconciliação com Ele, e não somente aquela com o meio ambiente e com nosso mundo compartilhado”.
O Cardeal conclui: “Em vez de apresentar uma aproximação ambígua a uma vaga religiosidade e à tentativa inútil de transformar o cristianismo em uma ciência de salvação, sacralizando o cosmos, a biodiversidade da natureza e a ecologia, deve-se olhar para o centro e a origem da nossa fé”.
Numa série de comentários, oferecidos pelo Cardeal Müller, que foi Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé entre 2012 e 2017, à publicação do Grupo ACI CNA Deutsch, assinala, em primeiro lugar, uma ambivalência na definição de termos e objetivos.
Explica que o texto do Instrumentum Laboris possui “algumaspreocupantes redundâncias " e que "se todas as repetições fossem eliminadas, o texto ficaria reduzido a metade, ou ainda menos ".
Entretanto, na opinião do Cardeal Müller, o problema não é tanto a exagerada extensão do texto, “mas o facto de que o significado dos termos-chave não são explicados e são utilizados de maneira exagerada”.
Em concreto, cita conceitos pouco explicados como “caminho sinodal”, “desenvolvimento integral”, “Igreja samaritana, sinodal e aberta” ou “uma Igreja de abertura, a Igreja dos pobres, a Igreja da Amazónia”.
Em segundo lugar, assegura que “a estrutura do texto apresenta-se radical na hermenêutica da teologia católica”. No Instrumentum Laboris, “toda a linha de pensamento se torna autorreferencial e circula em torno dos últimos documentos do Magistério do Papa Francisco, com algumas escassas referências ao Papa João Paulo II e Bento XVI”.
“Talvez o desejo era mostrar uma especial lealdade ao Papa, ou talvez acreditaram ser possível evitar os desafios do trabalho teológico quando se fazem constantes referências a palavras-chave conhecidas, e frequentemente repetidas, que os autores chamam, de maneira bastante incompetente: «o mantra de Francisco»”.
O Cardeal destaca também que os autores do Instrumentum Laboris confundem “os papéis do Magistério por um lado, e da Sagrada Escritura pelo outro” e, inclusive, indica que o documento “chega ao ponto de afirmar que há novas fontes da Revelação”.
Diante disto, sublinha que “a Sagrada Escritura e a Tradição são as únicas fontes da Revelação”.
O Cardeal Müller também se mostra crítico quanto ao método de trabalho da organização “Rede Eclesial Pan-Amazónica”, que foi praticamente criada para elaborar o Instrumentum Laboris e que “é uma sociedade fechada de pessoas com o mesmo ponto de vista sobre o mundo, tal como se pode observar facilmente na lista de nomes dos encontros pré-sinodais, que tiveram lugar em Washington e Roma, que contém um número desproporcional de europeus de língua alemã”.
Nesse sentido, chamou a atenção sobre o facto de que, no documento, os autores, identificados com a chamada “Theologia India (Teologia indígena) ”, “citam-se primordialmente a si mesmos”.
A imunidade deste grupo às objeções levantadas com seriedade, sua doutrinação, dogmatismo monolítico, ritualismo e clericalismo também são objetos da crítica do ex-Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Ele assegura que muitos deles carecem de experiência em assuntos da América do Sul e, se lhes foi confiada esta tarefa, é porque “acreditam que os temas estão alinhados com a estratégia oficial e podem servir para controlar os temas do atual caminho sinodal que empreenderam a Conferência Episcopal alemã e o Comité Central dos católicos alemães” em temas como a abolição do celibato, o acesso das mulheres ao sacerdócio ou a adaptação da moral sexual revelada à ideologia de género.
Na reflexão do Cardeal Müller, adverte-se também sobre os perigos do conceito de “cosmovisão” presente no Instrumentum Laboris: “Uma cosmovisão com os seus mitos e a magia ritual da Mãe ‘Natureza’, ou de seus sacrifícios aos ‘deuses’ e espíritos que assustam nosso intelecto, ou que nos tentam com falsas promessas, não podem de forma alguma ser um enfoque adequado para a vinda do Deus Trino em Sua Palavra e em Seu Espírito Santo”.
O Cardeal pede maior seriedade aos responsáveis pelo Instrumentum Laboris e pergunta: “Por acaso na formação dos futuros pastores e teólogos deve-se substituir o conhecimento da filosofia clássica e moderna, dos Padres da Igreja, da teologia moderna e dos concílios pela cosmovisão amazónica e a sabedoria dos antepassados com os seus mitos e rituais?”.
“A contemplação do cosmos é apenas a ocasião para glorificar Deus e o Seu maravilhoso trabalho na natureza e na história. O cosmos, entretanto, não deve ser adorado como Deus; só o Criador deve sê-lo”, enfatiza o Cardeal.
Do mesmo modo, recusa conceitos como “teologia indígena” ou “ecoteologia”: “são uma derivação do romanticismo social”.
“A teologia é a compreensão (intellectus fidei) da Revelação de Deus na Sua Palavra e na Profissão de Fé da Igreja, e não uma nova e contínua mistura de sentimentos do mundo e de pontos de vista do mundo ou de constelações religiosas-morais do sentimento cósmico tudo-em-um, a mistura dos sentimentos do próprio eu com os do mundo”.
Pelo contrário, “o nosso mundo natural é a criação de um Deus Pessoal. A fé no sentido cristão é, portanto, o reconhecimento de Deus em Sua Palavra Eterna que se fez Carne: é a iluminação do Espírito Santo para que reconheçamos a Deus em Cristo”.
O Cardeal Müller finaliza a sua análise do Instrumentum Laboris, assinalando que o que falta no documento “é um testemunho claro da auto comunicação de Deus no verbum incarnatum, da sacramentalidade da Igreja, dos Sacramentos como meio objetivo da Graça, em lugar de meros símbolos autorreferenciais, do carácter sobrenatural da Graça”.
“A integridade do homem não consiste só na unidade com uma bio-natureza, mas na Filiação Divina e na comunhão plena de graça com a Santíssima Trindade, de modo que a vida eterna é o prémio pela conversão a Deus, a reconciliação com Ele, e não somente aquela com o meio ambiente e com nosso mundo compartilhado”.
O Cardeal conclui: “Em vez de apresentar uma aproximação ambígua a uma vaga religiosidade e à tentativa inútil de transformar o cristianismo em uma ciência de salvação, sacralizando o cosmos, a biodiversidade da natureza e a ecologia, deve-se olhar para o centro e a origem da nossa fé”.